quinta-feira, 28 de maio de 2009

Inspeção - Boroscópio

Neste proximo final de semana irei para um treinamento de requalificação. Alguns cursos de qualificação como o de Inspeção Boroscópica requerem um “refresh” a cada dois anos para se manter proficiente.
Mas o que seria Boroscópio? O que vem a ser uma “inspeção boroscópica”?
A imagem abaixo mostra um técnico fazendo uma inspeção com um boroscópio, qualquer semelhança com um endoscópio usado por cirurgiões não é mera coincidência.
O boroscópio é um instrumento usado para fazer inspeções visuais remotas e é composto de duas partes principais:
1- Um longo e fino tubo que é inserido dentro do motor através de uma pequena abertura. Esse tubo pode ser rígido ou flexível.
2- Um conjunto de lentes e controle manual que fica fora do motor e mostra imagens do interior do motor.
A ponta do boroscópio ilumina a área que vai ser inspecionada no interior escuro do motor e através de “relay lens” transporta a imagem para a lente (ou monitor) que está do lado de fora.
Qual a função principal do Boroscópio?
Permitir que você possa “olhar” e procurar danos na parte interna do motor e da turbina sem que precise desmontá-los. Isso ocasiona uma grande economia de tempo e dinheiro para as empresas aéreas.

Abaixo a foto do controle do boroscópio, onde a gente vê o que tem dentro do motor.

De todas as qualificações que possuo, essa é com certeza a de maior responsabilidade. Não que não seja uma grande responsabilidade fazer um teste de motor em potência de decolagem, mas a inspeção boroscópia requer um nível de atenção e detalhamento que não permite qualquer erro, pois este vai acarretar um motor destruído (no caso de erro de avaliação) ou um motor removido sem necessidade (erro de sobre-avaliação). Em qualquer caso, você tá ferrado. Daí a necessidade de treinamento constante.

O rapaz acima está olhando a área da câmara de combustão do motor, pois dá pra ver os bicos injetores. A câmara de combustão é um dos lugares mais difíceis de analisar os danos quanto a serem normais de uso ou fora dos limites. Depois da câmara, vem a inspeção das paletas da turbina, e temos que saber o significado de cada parte dela, já que cada parte possui um limite diferente de tolerância aos danos.
A foto abaixo mostra dois tipos comuns de paleta de turbina, com e sem “shroud”.
Outro uso comum do boroscópio para inspeção é quando há suspeita de ingestão de pássaro ou qualquer outro objeto estranho pelo motor (F.O.D.)
Nesses casos a inspeção interna se foca mais na área dos primeiros estágios do compressor, se houver danos, estes são avaliados, medidos e aí a gente sacramenta: pode voar sem problema, pode voar por algumas horas ou não pode voar e tem que trocar o motor.
A foto abaixo é uma vista do segundo estágio da turbina de um motor Pratt & Whitney de Boeing 777, e essa é mais ou menos a vista que temos ao usar o boroscópio.

Como dá pra notar, uma das paletas está com rachadura e sinais de “inner sulfidation”, mas nem sempre os problemas são tão visíveis assim.
Da próxima vez que ouvir um motor acelerando com potência máxima para a decolagem, lembre-se que tem algum mecânico olhando lá dentro em intervalos regulares de tempo pra se certificar que está tudo certo.

Imagens: P&W e Aviation Learning

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